segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Outro dia

26.12.05



Outro dia, Patrícia Melo, uma escritora da atualidade brasileira, mencionou, em uma entrevista, algo muito interessante sobre a recuperação. Para ela, só as comunidades evangélicas obtém êxito real na recuperação dos dependentes químicos.
Essa afirmação surpreendeu-me. Qual seria o diferencial nessas comunidades? Atualmente, as comunidades evangélicas caminham a passos largos na direção das comunidades não evangélicas. A justificativa é a queda na demanda de clientes. Parece haver uma falsa impressão sobre os verdadeiros motivos causadores da diminuição de interessados em recuperação.
Com uma premissa falsa nas mãos, os líderes estão reagindo equivocadamente. A fé, a oração, a bíblia, etc., estão cedendo lugar aos tranquilizantes. Os pastores estão perdendo seus lugares para os psicólogos e psiquiatras. A dependência química está sendo encarada como uma doença e o dependente como um doente psíquico. “Quem está doente precisa tomar remédio". Quando você está com dor de cabeça toma Doril. Quando você está “fissurado” toma Neuzine,” é a lógica atual nas comunidades, digo, clínicas.
Meu objetivo não é promover um movimento contra os medicamentos ou os profissionais (Psicólogos e Psiquiatras). Desejo refletir um pouco sobre o que está acontecendo. Mesmo porque, não desejo afastá-los. Tenho bons amigos entre esses profissionais e muitos estão fazendo excelente trabalho na recuperação. Minha sugestão é estabelecer critérios claros para todos. O pastor interessado em trabalhar com dependentes precisará aprender todos os conhecimentos psicológicos necessários para exercer bem seu trabalho e o psicólogo ou psiquiatra interessado em trabalhar com dependentes, em uma comunidade evangélica, deverá ser cristão confesso e precisará aprender todos os conhecimentos teológicos necessários para exercer bem seu trabalho. Um bom psicólogo cristão saberá receitar oração e leitura da bíblia oportunamente, bem como o pastor encaminhará o dependente ao psicólogo ou ao psiquiatra quando for mais indicado e administrará os medicamentos conforme a orientação prescrita. O problema não é esse.
Se a escritora Patrícia Melo estiver certa, a Comunidade Evangélica precisará continuar sendo uma Comunidade Evangélica com fé, oração e leitura bíblica. O dependente interessado, verdadeiramente, em recuperação saberá qual é o lugar certo para conseguir alcançar seu objetivo.
Tenho a impressão de estar testemunhando as Comunidades Evangélicas disputando os dependentes “verdes”, cujo interesse verdadeiro será qualquer outro, menos deixar sua droga de eleição. Agora estou entrando pelo terreno da Ética. É lícito manter em tratamento um dependente sem interesse em deixar seu objeto de dependência? Devemos medicar um dependente para trazê-lo à consciência e dar-lhe oportunidade para decidir? Ou será dos profissionais e clínicas comuns essa tarefa? A fé real necessita da ajuda médica e farmacêutica? Ou poderíamos optar, somente, pelos dependentes “maduros”, prontos para receber tratamento na direção da recuperação?
Estou propenso a crer e aderir à idéia de manter um diferencial claro em nossa proposta. Se somos cristãos evangélicos, diremos a todos os interessados dependentes e co-dependentes. Mostrando todas as nossas armas logo de saída: Cremos nos Senhor Jesus Cristo, vivemos pela fé, oramos sem cessar, a leitura e estudo da bíblia são práticas intensas em nosso meio e indispensáveis na recuperação.
Ninguém será obrigado a ficar conosco. Se ficar, saberá quem somos, antes de começar, claramente.
Se nossa comunidade for grande demais para a nossa demanda, mudaremos para um lugar menor e diminuiremos a equipe. Se não houver demanda, fecharemos. Por que não?
Muitos iniciaram uma Comunidade Evangélica pela fé e movidos por uma visão dada por Deus. Com o tempo, a comunidade tornou-se seu meio de vida e não perceberam isso. Tenho conhecido pessoas com extraordinário talento para negócios tentando sobreviver com uma Comunidade que deveria estar fechada há muito tempo. Outros com o mesmo talento estão pensando em começar uma comunidade. Por que não começam um bom negócio? Não é pecado ser comerciante, banqueiro ou industrial. A Igreja precisa de prósperos homens de negócios. Os projetos sociais, a evangelização e missões transculturais só serão implementados se houver bons sustentadores.
Em meio à crescente população de dependentes químicos, dificilmente haverá muitos dispostos à mudar o rumo de suas vidas. Isso não é privilégio da dependência química. Acontece o mesmo com os outros pecados. Há uma minoria de mentirosos desejando mudar de vida. Poucos ladrões estão dispostos a deixar de roubar. Dificilmente um avarento procura ajuda para sair dessa dependência. Os vaidosos e prepotentes passam longe das Igrejas e quando um entra, dificilmente cai nas garras do evangelho libertador.
Na bíblia aprendemos a importância do trabalho de propagação do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. A evangelização é o ministério ungido para salvar multidões de pecadores. Os ministérios complementares dificilmente atrairão muitos. Nossa missão em uma Comunidade de Recuperação é trabalhar com poucos pecadores para salvar alguns. Mas, importa fazer bem. Sem condescendência. Sem compactuar com o ímpio ou com o presente século. Dessa forma, seremos, sempre, o único lugar onde haverá esperança genuína para esses pecadores.
Bem aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores e que não se assenta à roda dos escarnecedores; antes o seu prazer está na lei do Senhor e na sua lei medita de dia e de noite.” Sl. 1: 1 e 2

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